O evento histórico discutiu pautas de movimentos sociais de todo Brasil acerca de direitos territoriais e produção agroecológica
Não resta dúvida que a agricultura industrial é um dos principais responsáveis pela degradação da natureza. Esse sistema acentua dilemas sociais como a fome e a mortalidade infantil, a pobreza, o desemprego, a violência e o aumento de doenças associadas à má alimentação. As experiências de agroecologia debatidas no evento apresentaram soluções concretas para o enfrentamento dos desafios ambientais e sociais.
“Assistimos às manifestações explícitas de racismo, machismo e outras mazelas, o flagelo da fome volta às manchetes, número de desempregados não pára de subir, ondas de conservadorismo dissiminam na sociedade impulsionadas por uma mídia desinformada que despolitiza o povo” dizia um trecho da carta lida por Dione Torquato, membro do CNS.
Sobre a experiência vivida no encontro, o ativista relata. “Fica marcado pra mim como um evento histórico, pois fez essa interação entre os povos do campo, da floresta e das águas. Trouxe a cara e a voz do Brasil, de um povo que protagoniza em seus territórios a agroecologia, o cuidado com a conservação, com a cultura e a tradição. O ENA oportunizou o protagonismo e a voz de várias organizações e mostrou a força dos nossos movimentos sociais em defesa das políticas sociais de agricultura familiar, um ato de resistência e luta pelos direitos das comunidades tradicionais”, contou.
Plenária de mulheres
Na plenária de mulheres, vibravam a alegria e a força das ativistas indígenas, agricultoras, trabalhadoras do campo e da cidade reafirmando suas lutas e a histórica contribuição das mulheres para a construção da agroecologia. Para elas um ponto de partida era uníssono: sem feminismo não há agroecologia.
Durante os relatos, as mulheres seguiram denunciando várias as formas de violência e opressão que se expressam até mesmo em movimentos sociais através da invisibilização das mulheres. Dona Rita Barbosa, agricultora urbana relata a violência vivida por parte do estado durante as desapropriações da copa de 2014.
“Eu tinha lá minha propriedade, era agricultora , plantava uma horta imensa, que todos conhecem, porque isso virou um DVD e saiu nas redes sociais pelo mundo inteiro. E, eu fui removida, enganada pela prefeitura do Rio de Janeiro. Perdi tudo. Hoje eu luto na justiça para ter uma moradia digna. Não gosto muito de lembrar, porque foi muito massacre. Fui eu, foi a minha propriedade, foi a Vila Autódromo, aonde os agricultores, os pobres, os negros, apanharam muito. Foi muita violência. E isso nos marca, porque o Rio de Janeiro não é uma cidade que é feita pra nós, não é feita para pobre, não é feita pra negros”
Dona Ivete Bastos, é extrativista e ativista e compartilha um angustiante relato de viver sob ameaça de morte. “Nós lutamos para que a justiça nos ampare, mas mesmo quando aconteceu uma decisão favorável à nossa permanência em um território que é nosso por direito, presenciamos decisões judiciais sendo absolutamente ignoradas por madeireiros e minedadoras e nesse momento nos questionamos a quem podemos recorrer”, desabafa.
Relatos como o da ativista ajudaram a construir a Carta Política do ENA, dando visibilidade às suas pautas e foram encaminhados ao Ministério Público Federal para atendimento nas procuradorias competentes.
Por: Maysa Leão
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