Retificação 01 do Edital de chamada pública 001/2023

O Memorial Chico Mendes – MCM, inscrito no CNPJ sob o número 01.934.237/0001-02, com sede na Rua Teófilo Said, 05, Conj Shangrillar II – Bairro Parque Dez, na cidade de Manaus-Am, CEP: 69.054-693, tendo em vista o constante no Termo de Colaboração MDS Nº 945514/2023, Transferegov Nº 045512/2023, torna pública a RETIFICAÇÃO Nº 01 referente ao EDITAL DE CHAMADA PÚBLICA 001/2023 para a seleção e contratação de entidades privadas sem fins lucrativos para a implementação das tecnologias sociais

Leia a retificação completa em: https://www.memorialchicomendes.org/files/2023/12/6.-Retificação-Nº-01.pdf

PEDRO RAMOS DE SOUSA, A FLORESTA TE CHAMOU!

Neste 11 de dezembro, meu companheiro de tantas lutas, meu mano Pedro Ramos de Sousa partiu do espaço físico deste mundo.

 

Por Júlio Barbosa de Aquino

 

Me sinto muito triste, e expresso o meu pesar contando um pouco da nossa história e do que ele representa para este movimento de resistência, do qual ele não só faz parte, mas, assim como seu grande amigo Chico Mendes, representa a própria alma, a própria razão de ser. Acho que o Pedro Ramos ia gostar de saber desta pequena homenagem.

Conheci o Pedro Ramos em 1989, logo depois da morte do Chico Mendes. Eu já tinha ouvido a Mary Allegretti e o Chico falar dele, mas foi depois daquela morte que eu fui pro Sul do Pará e para o Amapá, cumprir a agenda de mobilização que o Chico tinha marcado, com o objetivo de convidar os companheiros e as companheiras para o I Encontro dos Povos da Floresta, que seria também o II Encontro Nacional dos Seringueiros, marcado para acontecer em março de 1989, como de fato ocorreu, na capital do Acre, Rio Branco.

Dadas as circunstâncias, eu, que era o vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, assumi a presidência do STR e em seguida assumi também a difícil missão de cumprir a agenda do Chico. Fui primeiro para Altamira, onde o Movimento Indígena protestava contra a Usina de Belo Monte e contra o próprio nome que estavam dando para a usina, Kararaú, um nome indígena, que os Kayapó não permitiam que fosse usado.

Foi em Altamira que eu conheci o Gatão (Atanagildo de Deus Matos) e uma grupo de advogados que defendiam os trabalhadores rurais no Pará. De Altamira seguimos juntos pela Transamazônica para Marabá, porque era essa turma que falava com o Chico Mendes, através dos Sindicatos, do PT e da CUT pela Base. De lá, eu segui para Belém, e de Belém para Macapá, para me encontrar com o Pedro Ramos, que eu meu contato passado pela Mary. Pedro Ramos foi me buscar no aeroporto e me levou pra casa de um médico chamado Batista, que me hospedou por três dias.

Em Macapá, Pedro Ramos agendou reuniões na CUT e no PT, e saímos delas com os delegados eleitos para Rio Branco. O Pedro veio com a delegação do Amapá para Rio Branco e, em março de 1989, no II Encontro Nacional dos Seringueiros, que naquela época era Encontro e não Congresso, eu fui eleito presidente e o Pedro Ramos secretário geral do CNS. Dali pra frente, até recentemente, quando a saúde dele não mais permitiu, por essas quase quatro décadas, o nosso trabalho foi sempre junto.

Eu preciso dizer que, naquela hora terrível da morte do Chico, que foi a figura principal no meu processo de formação e compreensão a luta sindical, e, mais tarde, da sua dimensão ambiental, o Pedro Ramos foi a pessoa que, não só a mim, mas a todos e todas nós, nos deu muito lição sobre seguir adiante, como se organizar na luta, como a gente ter cuidado no trato com o inimigo, como diferenciar inimigo de adversário.

Sim, porque foi como o Pedro Ramos que eu aprendi inimigo e adversário que são coisas diferentes, que inimigo é aquele com quem a gente não conversa, e adversário é aquele com quem você pode ter diferenças filosóficas e ideológicas, mas que adversário continua sendo adversário, mas sendo preciso a gente conversa e se trata com respeito.

Nessa nossa luta, o Pedro exerceu um papel fundamental no debate que foi feito, no plano nacional, sobre as Reservas Extrativistas (Resex). Foi ele quem nos ajudou a pensar sobre como implementar as Resex, sobre como construir os protocolos de utilização dos territórios, que foram os primeiros documentos oficiais depois da assinatura do Decreto Presidencial que criou as primeiras Reservas Extrativistas.

O papel do Pedro Ramos foi também essencial da Política Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais. Porque o Pedro tinha essa coisa com ele que ninguém de nós tinha: Ele tinha a capacidade intelectual de pensar políticas e de analisar documentos. No CNS, era ele quem primeiro, com muita paciência, lia tudo o que chegava e, depois de ler com calma, elogiava ou questionava, analisava os riscos e oportunidades e recomendava que a gente assinasse ou não.

Hoje, nessa hora triste em que nós nos sentimos um pouco órfãos com a despedida do Pedro, é preciso lembrar que Pedro Ramos de Sousa nos deixa um grande legado. Sem ele, não teríamos tido tantas conquistas, tantos territórios sob a guarda de nossas comunidades extrativistas. Sem esse ser humano tão extraordinário, sem este segundo Chico Mendes que passou por nossas vidas, teríamos tido uma jornada bem mais dura e com muito menos resultados.

Do exemplo de Pedro Ramos, fica o aprendizado de que a nossa luta, para ser vitoriosa, como dizia também o Chico Mendes, depende de muita disciplina, de muito compromisso, de muita disciplina e de muita organização. Mesmo o Pedro Ramos tendo aquele jeitão dele de parecer que era desorganizado, na verdade ele era um dos companheiros mais disciplinados que já passou por essa nossa longa luta.

Então, neste dia de tristeza, mesmo a gente sabendo que o Pedro estava muito doente e precisava descansar, não tem jeito de não se entristecer, o que espero é que o exemplo de vida dele sirva de inspiração para nossa juventude. Espero que cada jovem de cada Reserva Extrativista, se ainda não conhece, que venha a conhecer a história do companheiro Pedro Ramos e que faça dela referência em sua própria caminhada de luta.

Que todos e todas nós possamos honrar a memória e defender os legados dos e das que tombaram em luta por uma sociedade mais justa: de Chico Mendes, de Irmã Dorothy Stang e, agora, também de Pedro Ramos de Souza.

 

Júlio Barbosa de Aquino – Presidente do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS).

Lideranças extrativistas defendem na COP28 permanência dos povos tradicionais na floresta como forma de resistência

Com o ativismo socioambiental em defesa da floresta viva e pela garantia dos direitos das populações tradicionais pulsando em suas veias, a líder extrativista Letícia Moraes escreve mais um importante capítulo de sua trajetória de luta ao participar da discussão sobre a emergência climática na 28ª edição da Conferência das Nações sobre Mudanças Climáticas (COP28), que acontece em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.

A vice-presidente do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS) foi uma das palestrantes do painel “Protagonismo Indígena e de Comunidades Locais no Enfrentamento à Crise Climática”, realizado, nesta terça-feira (05/12), no Pavilhão do Brasil, na COP28. O painel destacou como esses grupos têm sido fundamentais na conservação do meio ambiente, na promoção da sustentabilidade e na defesa dos direitos territoriais tradicionais.

Moradora do projeto de assentamento agroextrativista PAE Ilha São João, Comunidade Boa Esperança, no município de Curralinho, no Marajó (PA), Letícia se emocionou ao discursar sobre a importância de estar presente em um evento de alcance mundial como a COP28 e de servir como canal para reverberar a voz de milhares de jovens e mulheres da floresta.

“É uma emoção estar participando de uma COP, algo que a gente só ouviu falar ou leu histórias a respeito, mas principalmente de estar aqui para dizer que os nossos corpos também estão presentes nessa luta e que precisamos ser ouvidos, visibilizados e, sobretudo, ter as nossas histórias respeitadas”, afirmou Letícia.

 

Instrumento de luta coletiva

 

Nascida em uma família de nove irmãos, Letícia desde muito cedo ouviu que precisava sair de seu território para ser alguém na vida. Isso sempre a incomodou. Aos 14 anos partiu em busca dos estudos e após 10 anos fora da sua comunidade, voltou com a graduação, o mestrado e o início do doutorado.

Com uma bagagem cheia de conhecimento, a líder extrativista hoje luta para que a juventude e as mulheres da floresta não precisem abandonar seus territórios. “Se olhar por debaixo das florestas tem gente, são pessoas que gritam com todas as suas forças que querem permanecer nos seus locais”, declarou a vice-presidente do CNS.

“Hoje, quando paro para pensar no fato das pessoas considerarem que eu não sou ninguém dentro do território, isso também é uma forma de violação dos nossos direitos, da nossa diversidade social e cultural”, destaca. “Tive acesso à educação escolar não por uma oportunidade, mas porque foi uma resistência minha em acessar esses espaços acadêmicos”.

Ela faz questão de lembrar que sua história é de resistência, mas que serve como instrumento de luta coletiva. “É preciso buscar melhorias na qualidade de vida dos povos da floresta, com acesso à educação, saúde, comunicação, moradia digna e, sobretudo, o protagonismo que merecemos por sermos os verdadeiros guardiões dos nossos territórios”, afirma a líder extrativista.

A vice-presidente do CNS destaca que levar essas políticas públicas para dentro dos territórios tem sido uma missão desafiadora, principalmente a partir da luta por uma questão primordial que proporciona outros direitos e garantias: a regularização fundiária e ambiental desses espaços.

“Precisamos pensar não como donos desse lugar que não nos pertence, mas como seres que estão aqui de passagem, com a responsabilidade de pensar em algo maior. A aliança que os povos da floresta realizou no passado precisa ser renovada e ampliada”, afirmou Letícia Moraes.

Além de Letícia, compõem a comitiva do CNS na COP28, o presidente do Conselho, Júlio Barbosa; o Secretário de Formação e Comunicação, Joaquim Belo; e o Tesoureiro, José Ivanildo.

Ainda nesta terça-feira, em Dubai, os membros do CNS participaram do lançamento da Cúpula dos Povos da COP30, que reúne centenas de organizações da sociedade civil para debater uma agenda socioambiental e climática do governo brasileiro e do restante do mundo.

Segundo Letícia, a cúpula fará ainda uma agenda de ações para destacar as lutas populares latinoamericanas para a COP30, que acontecerá em 2025, em Belém. Além do CNS, a cúpula é formada por mais de 50 organizações sociais. “Será uma grande coalização para pressionar, junto com a sociedade civil global, os líderes mundiais em relação à agenda climática.

Memorial Chico Mendes lança edital para projetos de captação de água

 

Sistema comunitário / Foto: Clodoaldo Pontes

 

O Memorial Chico Mendes torna público o Edital de Chamada Pública para a seleção e contratação de entidades privadas sem fins lucrativos para a prestação de serviços relativos à implementação de tecnologias sociais e acesso a água para consumo, inclusão social e produtiva que atuarão em 24 municípios da região Norte do Brasil. As  tecnologias para execução do projeto precisam ser voltadas para ambientes de várzeas e terra firmes e devem atender famílias que vivem em comunidades e ou em casas isoladas.

As orientações técnicas para a implementação da(s) tecnologia(s) social(is) objeto deste edital estão dispostas nas Instruções Normativas divulgadas pela Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SESAN). Os interessados tem até o dia 18 de dezembro de 2023 para a apresentação dos documentos. As organizações selecionadas para execução dos projetos terão 24 (vinte e quatro) meses para execução do objeto contratado, a contar da data da assinatura dos respectivos contratos.

Para mais informações, leia o edital completo disponível no link abaixo:

EDITAL DE CHAMADA PÚBLICA 001/2023

RETIFICAÇÃO 01 DO EDITAL DE CHAMADA PÚBLICA 001/2023

RETIFICAÇÃO 02 DO EDITAL DE CHAMADA PÚBLICA 001/2023

RESULTADO PROVISÓRIO

RESULTADO DEFINITIVO

Anexos

ANEXO I do Edital de Chamada Pública nº 001/2023  – OFÍCIO DE FORMALIZAÇÃO DE INTERESSE

ANEXO II do Edital de Chamada Pública nº 001/2023 – FORMULÁRIO DE INFORMAÇÕES DO PROPONENTE

ANEXO III do Edital de Chamada Pública nº 001/2023 – MODELO DE TERMO DE CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇO 

Anexo IV – Instruções Normativas

 

 

Memorial altera Comissão de Compras

Adevaldo Dias, presidente e portanto representante legal do Memorial Chico Mendes, no uso de suas atribuições e competências legais previstas no estatuto social, em consonância com o disposto na Lei 9.790 de 23 de Março de 1999, estabelece – com a Resolução Nº 004/2023 – a recomposição da Comissão de Compras – instituída na Resolução Nº 002/2023 de 01 de março de 2023 -, para cumprimento das atribuições tipificadas no Regulamento de Compras e de Contratação de Obras e Serviços do Memorial Chico Mendes.

 

Para acessar o documento: RESOLUÇÃO Nº 04 DE 04 DEZEMBRO DE 2023 

Memorial institui Comissão de Compras

Adevaldo Dias, presidente e portanto representante legal do Memorial Chico Mendes, no uso de suas atribuições e competências legais previstas no estatuto social, em consonância com o disposto na Lei 9.790 de 23 de Março de 1999, estabelece – com a Resolução Nº 003/2023 – a Comissão de Compras do Memorial Chico Mendes para cumprimento das atribuições tipificadas no Regulamento de Compras e de Contratação de Obras e Serviços do Memorial Chico Mendes como decorrente do projeto “Sanear Amazônia”.

Para acessar o documento: RESOLUÇÃO Nº 03 DE 04 DEZEMBRO DE 2023

Populações extrativistas entregam documento para Lula e Marina que reforça defesa dos territórios e da sociobiodiversidade

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, receberam a resolução criada após cinco dias de muitos debates e com a participação de aproximadamente 300 pessoas do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS) que, entre outros assuntos, reivindica políticas públicas para manter a floresta viva e fortalecer a economia da sociobiodiversidade.

O documento foi entregue, no dia 23 de novembro, pelo secretário de Formação e Comunicação do CNS, Joaquim Belo, que também é extrativista no Amapá. Segundo ele, o presidente Lula informou que, a partir do próximo ano, fará uma agenda para visitar comunidades extrativistas em diversas partes do país.

A resolução do CNS foi criada durante o Congresso Nacional do CNS, realizado, de 13 a 17 de novembro, em Brasília. Com 38 anos de história, o movimento que surgiu sob a liderança de Chico Mendes debateu durante o Congresso os temas: Fórum das Mulheres dos Campos das Florestas e das Águas em Defesa do Clima e da Vida; O Papel dos Territórios de Uso Sustentável no Combate à Crise Climática, Consolidação dos Territórios de Uso Sustentável, Regularização Fundiária e Infraestruturas para as Reservas Extrativistas, Gestão Socioprodutiva e Linhas de Financiamento para a Economia da Sociobiodiversidade, e Gestão e Organização Social dos Territórios.

Parte da resolução apresentada pelo CNS declara que “Defendemos a justiça climática do ponto de vista das mulheres, em sua multiplicidade, diversidade e territorialidade para desenvolver estratégias para o protagonismo das mulheres na agenda climática. Também temos consciência do papel das florestas tropicais e das populações que nelas vivem no equilíbrio climático global. Só em nossos territórios protegemos bilhões de estoques de carbono. Defendemos a construção de mecanismos de políticas públicas que garantam amplas e justas formas de compensação de pagamento pelos serviços ambientais que prestamos ao Brasil e ao planeta”.

Entre outros assuntos, a nova resolução do CNS para os próximos quatro anos defende ainda: A floresta viva, a economia da sociobiodiversidade alinhada com a ciência e a tecnologia para melhorar a coleta e a comercialização dos produtos florestais e da pesca, respeitando os modos de vida das pessoas extrativistas; Ampliar a articulação de redes de apoio e solidariedade, potencializando a formação e o enfrentamento de desafios e a busca por tomadas de decisões coletivas; entre outras.

Durante o Congresso, os membros do CNS também reafirmaram serem contra ao Marco Temporal, que ameaça os direitos dos povos indígenas às suas terras e coloca em risco o equilíbrio climático. Além disso, defenderam a urgente regularização fundiária dos territórios quilombolas e a criação de estratégias conjuntas para frear o desmatamento, e avançar na agenda de demarcação de novas modalidades territoriais dos povos do cerrado.

Também foi instituído o Prêmio Chico Mendes de Defesa dos Povos e Territórios Tradicionais, que será concedido anualmente pelo CNS para quem se dedica à defesa dos direitos das populações tradicionais e extrativistas ou dos seus territórios. O Conselho ainda realizará o Encontro Nacional das Mulheres Extrativistas, em 2024, e o IV Chamado da Floresta, em 2025, na cidade de Belém (PA), antecedendo a realização da COP-30.

Durante o Congresso Nacional também aconteceu a eleição da nova diretoria do CNS por votação aberta entre os delegados, que compõem o Conselho, e ficou definida a recondução do presidente, o líder extrativista do Acre, Júlio Barbosa. Além dele, os outros membros são: Letícia Moraes (Pará) como vice-presidente do CNS; Wendel Araújo (Acre) para a secretaria de Articulação de Juventude; Silvia Elena Moreira (Amazonas) na Secretaria de Direitos Humanos; Juarez Leitão (Acre) na secretaria de Relações Internacionais; Joaquim Belo (Amapá) na secretaria de Formação e Comunicação; Dione Torquato (Amazonas) como secretário-geral do CNS; Maria Nice Aires (Maranhão)  com secretária de Mulheres; Ivanildo Brilhante (PArá) na Tesouraria do CNS; e Francisco Flávio do Carmo  (Amazonas) na secretaria de produção, comercialização e Cooperativismo.

“As pessoas reconhecem que estamos fazendo um trabalho no caminho certo. A minha recondução na presidência do CNS é importante para olharmos o nosso planejamento estratégico e trabalhar nos desafios, como a regularização das Reservas Extrativistas que já existem, criar novas reservas, avançar com o fortalecimento da sociobioeconomia e das cooperativas, melhorar a educação profissionalizante em nossos territórios para os jovens, instalar mais pontos de internet, entre outros”, disse o presidente do CNS, Júlio Barbosa.

 

Apoio

O Congresso Nacional do CNS só foi possível com o apoio de diversas organizações e empresas, como a Azul Linhas Aéreas que, por meio do “Movimento Ara – Todas as Amazônias sobre o mesmo céu azul”, que viabilizou parte das passagens aéreas para os participantes. Além disso, a empresa também anunciou um projeto de sustentabilidade e de cargas, que visa fomentar o desenvolvimento da sociobioeconomia.

 

Parceiros do Congresso: Memorial Chico Mendes (MCM), Universidade de Brasília (UnB), Instituto Sociedade População e Natureza (ISPN), Instituto Socioambiental (ISA), Instituto Clima e Sociedade (iCS), Comitê Chico Mendes, WWF-Brasil, Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), Instituto de Estudos Amazônicos (IEA), Fundação Amazônia Sustentável (FAS), Núcleo de Estudos Amazônicos (NEAz – UnB) e Environmental Defense Fund (EDF).

 

Apoio: Governo Federal, através do Ministério das Mulheres (MMULHERES) e do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), Azul – Linhas Aéreas Brasileiras, Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ), Natura, ONU Mulheres Brasil, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Rainforest Foundation Norway, Fundo Vale, Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e Federação dos Trabalhadores em Empresas de Crédito do Centro Norte.

Reservas Extrativistas: Um modelo de reforma agrária para a Amazônia

Fonte: Xapuri Socioambiental

Por Júlio Barbosa de Aquino, Presidente do CNS – Conselho Nacional das Populações Extrativistas.

Em outubro deste ano, o CNS completou 38 anos. Nessa mesma data, a proposta das Reservas Extrativistas também completou 38 anos, porque essa nossa ideia coletiva da criação de um modelo adequado de Reforma Agrária para a Amazônia foi apresentada por Chico Mendes durante o I Encontro Nacional dos Seringueiros, realizado na Universidade de Brasília, em 1985, quando foi criado o CNS.

Movimento dos Seringueiros

Passamos por várias fases nessa história do extrativismo na Amazônia. Veio o ciclo da borracha no início do século e depois veio outro, de 1945 até 1966, que foi o segundo ciclo da borracha.

Em 1966, aconteceu a falência do Banco de Crédito da Borracha e, nesse momento, todos os seringais entraram em falência. Sem seringalistas, os seringueiros passaram a viver por sua própria conta e risco. Foi aí que começou a surgir essa nossa sociedade dos Povos da Floresta. Foi esse o momento que vivi com Chico Mendes e as lideranças do Movimento dos Seringueiros.

A partir da década de 1970, os seringais quase todos deixaram de existir e passaram a ser substituídos por barracões, e estes, pelo marreteiro. Nesse tempo, deixou de existir a política da borracha no Brasil. O seringal já não tinha importância nenhuma para a economia brasileira, passando a ser mais econômico comprar borracha de fora.

Com a falência dos seringais, foram abertas as portas da nossa região para a venda dos seringais a grandes proprietários de terras do Sul e do Sudeste do país. E os paulistas, que a gente chamava de paulistas, vieram.

Começamos a enfrentar o desafio que foi entender que os seringais tinham acabado e que o barracão e o armazém fecharam. Ficamos à mercê dos marreteiros comprando borracha a um preço bastante baixo.

No início da década de 1970, os paulistas começaram a comprar os seringais na Amazônia. A questão dos seringais traz junto a abertura das estradas na Amazônia, como a BR-364. Havia um projeto político vinculado com o Calha Norte, para fazer todo um círculo de estradas.

Empates e Sindicatos

Esse tipo de ação despertou a curiosidade dos seringueiros do Acre. Foi o tempo dos grandes empates. O primeiro aconteceu no Acre em 1974, e o segundo aconteceu em 1975, ambos antes da criação do primeiro sindicato no estado.

Aliás, é preciso esclarecer que o sindicato no Acre surgiu dos empates, não foi criado para organizar os empates, os sindicatos foram fruto dos empates.  Foi em razão dos conflitos que estavam acontecendo na região que houve a necessidade de se criarem os sindicatos.

Quando aconteceu o empate do quilômetro 45 da estrada de Boca do Acre, em 1979, o maior da história do estado, aquele que ficou conhecido como “Mutirão contra a Jagunçada”, o sindicato estava começando. Tinha o de Sena Madureira, o de Rio Branco e o de Brasiléia. O Sindicato de Xapuri estava sendo fundado.

Naquele momento, a região de Boca do Acre tinha um fazendeiro que formou um bando de pistoleiros muito bem armados. Eles tinham por missão expulsar todos os seringueiros da região e invadir, também, as terras dos indígenas Apurinã.

Foto: Divulgação/ Jorge Viana

Esse ato, que contou com a participação de alguns índios e do cacique dos Apurinã, desembocou no grande empate que deu muita força pro Movimento, mas também aumentou a violência contra os seringueiros, que resultou no assassinato do Wilson Pinheiro, então presidente do Sindicato de Brasiléia, em 21 de julho de 1980.

Foto: Divulgação/ Edison Caetano / REUTERS

Ataque à Floresta

Após a morte do Wilson Pinheiro, naquele mês de julho de 1980, os seringueiros continuaram resistindo contra a entrada dos fazendeiros na região. Chico Mendes, que era o secretário do Sindicato de Brasiléia, veio pra Xapuri e, de Xapuri, ficou nos aconselhando, organizando o sindicato e a luta geral dos seringueiros.

Em Xapuri, a atividade de extração da borracha nunca deixou de existir. A partir de 1981-1982, o fazendeiro usava vários mecanismos para conseguir expulsar seringueiros da colocação: um deles era a proposta de acordo com indenização.

Caso os seringueiros não aceitassem a indenização, vinha a pressão por meio da pistolagem com a queima de casas, a matança de animais, a expulsão com intimidação e, em alguns casos, até assassinatos.

Outro argumento que eles usavam, bem articulado inclusive com donos de cartórios, era o argumento da assinatura: o convencimento de assinatura de papel em branco.

O seringueiro, que não sabia ler, colocava sua digital numa folha de papel em branco, o fazendeiro juntamente com o oficial de justiça dizendo que eles estavam assinando um documento em que o fazendeiro se comprometia a não mexer mais com ele em sua colocação.

O fazendeiro pegava aquela folha de papel assinada em branco, fazia uma declaração em nome do próprio seringueiro dizendo que abria mão da colocação dele pro fazendeiro e, com aquele documento, conseguia um mandado judicial e expulsava o seringueiro da colocação.

Projeto Seringueiro

Chico começou a ver que era necessário implantar algumas escolas para que o seringueiro pudesse aprender a pelo menos assinar seu nome. Nesse ponto entrou a Mary Allegretti.

A Mary veio para o Acre fazer a dissertação de mestrado e se juntou ao Movimento em Xapuri.  Chico e ela conseguiram pensar na implantação de um programa de educação para Xapuri, surgindo daí o Projeto Seringueiro e a Cartilha Poronga.

Implantamos as primeiras escolas em 1981. Mary foi a primeira professora do Projeto Seringueiro, e a primeira professora que deu aula para as pessoas analfabetas do seringal. O companheiro Manoel Estébio, que ajudou a Mary a fundar a primeira escola, inaugurada em maio de 1981, na colocação “Já com Fome”, no seringal Nazaré, explica como foi:

A escola do Projeto do Seringueiro foi criada pelo Movimento, para a resistência. Inicialmente era só para adultos, com professores voluntários, não seringueiros, que vinham do ambiente urbano e que seguiam a pedagogia desenvolvida por Paulo Freire.

Foi ali, na colocação “Já com Fome”, que criamos a primeira escola do Projeto Seringueiro, construída em mutirão pelos próprios seringueiros. Essa escola foi batizada com o nome de Wilson Pinheiro, em homenagem ao nosso companheiro e mártir, assassinado em julho de 1980, no STR de Brasiléia. 

Por um tempo, a Fazenda Bordon indenizou compulsoriamente o antigo seringueiro dono da colocação “Já com Fome” e se apropriou do Seringal Nazaré. Nessa época, era a Bordon que dava a senha: se ela fizesse uma derrubada, as outras fazendas, em qualquer ponto do Acre, também começavam a derrubar. Era como se existisse um código, um acordo estabelecido, no qual o sinal de partida para as derrubadas era sempre dado pela Bordon.

Mas os companheiros do Nazaré organizaram a resistência, retomaram a colocação “Já Com Fome”, e isso também passou a funcionar como senha para os seringueiros de outros seringais: se os seringueiros do Nazaré eram capazes de fazer aquele enfrentamento, outros também se sentiam desafiados a fazer os empates para proteger seus seringais.

A questão da Reforma Agrária

Ainda não tínhamos relação com os movimentos indígenas. Foi a partir do Projeto Seringueiro e das discussões sobre as escolas que abrimos o debate sobre a questão da Reforma Agrária.

Os Empates eram feitos e, na maioria deles, éramos derrotados. Eles vinham com a polícia, com o poder do Estado, a justiça, e o fazendeiro conseguia mandado de segurança para garantir o desmatamento. A gente resistia, e a luta continuava, mas era preciso encontrar uma saída.

Era necessário pensar num modelo novo de Reforma Agrária. Os assentamentos que existiam não estavam dando certo. Vários projetos de colonização estavam sendo implantados e o que se via era a pessoa receber uma parcela do Incra, ir pra lá e, com menos de um ano, sair de lá morrendo de malária e sem assistência nenhuma. Era obrigada a vender, entregar aquela terra pro fazendeiro. Dessa forma também foram construídas muitas fazendas de gado na nossa região.

Essa discussão sobre a questão da reforma agrária foi o início de tudo. Até então, a ideia que se tinha da Amazônia e do Acre era de uma terra vazia e sem gente, com alguns poucos índios espalhados pela floresta. Fora os índios, se pensava que não existia mais ninguém além do pessoal que morava na cidade. Por isso, na ideia do governo da ditadura, era importante ocupar a Amazônia.

Fonte: ICMBio, INCRA. Organizado pelo Instituto de Estudos Amazônicos – IEA

Mais uma vez, o Chico percebeu a necessidade de mobilização, de ir a Brasília mostrar às autoridades que na Amazônia tinha muita gente trabalhadora, honesta, gente do bem: índio, seringueiro, caboclo, ribeirinho. Aconteceu então o I Encontro Nacional de Seringueiros, com apoio de muita gente no Amazonas, em Rondônia, no Acre, no Amapá.

Reservas Extrativistas

O Encontro trouxe à tona o pensamento da Reserva Extrativista.  O Chico tinha consciência de que era importante para os seringueiros ter voz dentro da Assembleia Nacional Constituinte.

Ele fez parceria com o Lula, que era Deputado Federal Constituinte por São Paulo, e com o Cacique Mário Juruna, Deputado Federal Constituinte pelo Rio de Janeiro: duas lideranças importantes para garantir avanços no capítulo da Reforma Agrária na Constituição de 1988.

A aproximação com os indígenas se dava através do indigenista Terri Aquino, do sertanista Antônio Macedo e do antropólogo Mauro Almeida, que aproximaram os caciques indígenas de Chico Mendes. O cacique Soeiro foi com o Chico para Brasília. Esse cacique velhinho, pai do Siã Kaxinawá, foi uma figura importante nesse processo.

Foi dele que ouvi, pela primeira vez, palavras sobre a necessidade de fazer uma aliança entre índios e seringueiros pela defesa do território. Foi assim que os Povos da Floresta se uniram. A Aliança dos Povos da Floresta começou assim: legitimada com grande força por lideranças como Ailton Krenak e tantas outras, depois da morte do Chico Mendes, e continua viva até hoje, defendendo as Terras Indígenas e as Reservas Extrativistas.

O próprio Chico Mendes, em depoimento gravado com a atriz e ambientalista Lucélia Santos em maio de 1988, define o conceito das Reservas Extrativistas:

A proposta das Reservas Extrativistas é a seguinte: as terras estão supostamente nas mãos dos grandes latifundiários. Em toda a área do Acre, apenas dez donos dominam todo o poderio de terras. Dez mandantes. 

O que nós queremos é o seguinte: que essas terras passem ao domínio da União, que o governo desaproprie essas áreas, que elas passem a ser domínio da União (não do Estado, da União) e que elas se transformem em usufruto aos habitantes da floresta, ou seja, para os seringueiros. 

Nós defendemos a Reserva Extrativista, e quando nós a defendemos é porque nós apostamos que a Reserva Extrativista é economicamente viável para o Brasil, para a Amazônia e para a humanidade.

Estamos colocando como proposta [o] cooperativismo, colocando como proposta prioritária uma melhor forma de comercialização da borracha e a comercialização da castanha.

Nós queremos criar indústrias caseiras para se dar prioridade às outras riquezas. Veja bem: quando nós defendemos a Reserva Extrativista é porque nós apostamos que a Reserva Extrativista é economicamente viável para o Brasil, para a Amazônia e para a humanidade.

Não defendemos apenas a economia da borracha, não só a economia da castanha, mas também a copaíba e os produtos extrativistas que são vários em toda a região da floresta e que estão sendo destruídos como o coco do tucumã, o patoá, o açaí… falta pesquisa nessa Amazônia. As árvores medicinais impossíveis de serem contadas são um grande exemplo. Falta pesquisa. 

Basta que o Governo leve nosso pedido a sério e nos dê essa possibilidade. Em pouco tempo vamos provar que é possível conservar a Amazônia e transformar essa Amazônia numa região economicamente viável para o Brasil e para o mundo. Nós temos clareza disso!

Política Pública

Infelizmente, não deixaram o Chico viver para conhecer o nosso projeto de Reserva Extrativista implantado. As quatro primeiras Reservas Extrativistas (Resex) só foram criadas meses depois de seu assassinato, em março de 1989, por decreto presidencial.

São elas: Resex Chico Mendes e Alto Juruá, no Acre; Resex do Rio Ouro Preto, em Rondônia; e Resex do Rio Cajari, no Amapá, perfazendo um total de 2.162.989 hectares.

Fonte: Divulgação.

Do ponto de vista institucional, as Resex são definidas como espaços territoriais protegidos, pertencentes ao domínio do poder público, com uso concedido às populações tradicionais. O objetivo das Resex, segundo a lei, é garantir a proteção dos meios de vida e da cultura das populações tradicionais e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais nas áreas onde vivem.

Foto: Divulgação / Juvenal Pereira/ WWF-Brasil

As Resex foram introduzidas na estrutura do governo federal pela Lei 9.985/00, que criou o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), regulado pelo Decreto nº 4.340/02. Elas são criadas por lei e administradas pelo órgão ambiental correspondente na União, nos estados e nos municípios: se criadas por lei federal, a responsabilidade será do Instituto Chico Mendes (ICMBio); em caso de lei estadual ou municipal, a gestão será de responsabilidade do órgão ambiental do estado ou município.

Cada Resex é gerida por um Conselho Deliberativo, presidido pelo órgão responsável por sua administração e constituído por representantes de órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e das populações tradicionais residentes na área, conforme se dispuser em regulamento e no ato de criação da unidade. É este conselho que aprova o Plano de Manejo de cada Reserva Extrativista.

Conquista do movimento

Na prática, as Reservas Extrativistas são uma conquista nossa, do Movimentos dos Seringueiros, que se organizou no CNS, com nossos parceiros e aliados da Aliança dos Povos da Floresta e do movimento social brasileiro, como o Chico vislumbrou em vida:

A ideia básica que levou a pensar na criação de reservas extrativistas é a de garantir áreas historicamente ocupadas pelos seringueiros, melhorando o nível de vida deles. Essa reserva não terá proprietários. Ela vai ser um bem comum da comunidade. Teremos o uso, não a propriedade. Faremos um contrato com o governo para o uso, mas não poderemos vender a terra.

Embora vivamos hoje com muitas ameaças, desde as clássicas ameaças – desmatamento, queimada, mineração, avanço da pecuária – até os famigerados projetos de lei, como o PL 6024/2019, de autoria da deputada Mara Rocha (PSDB-AC), em tramitação na Câmara Federal, que propõe a redução dos limites da Reserva Extrativista Chico Mendes, nesses 38 anos do lançamento da proposta das Resex em Brasília, temos razões para celebrar essa nossa conquista.

Com a força de nossa luta, conseguirmos proteger 15,7 milhões de hectares de florestas, nas contas do governo federal, onde vivem cerca de 1,5 milhão de famílias.

Convivência com Chico Mendes

Convivi muito com Chico Mendes porque nasci numa colocação que ficava a meia hora de distância da colocação onde ele morava. Cresci com Chico Mendes e sei como ele se alfabetizou. Sou consciente de que o Chico tinha uma sabedoria que parecia vir do além. Uma coisa da qual me orgulho muito é que ele nos deixou recomendações, que são princípios básicos de cada um de nós que somos lideranças.

Uma delas é a questão da responsabilidade, outra é o compromisso que você tem que ter com aquilo em que você acredita, e a terceira, é sempre pensar na união do grupo. O Chico tinha essa questão da disciplina, da responsabilidade, do compromisso, da lealdade. Ele tinha como princípios básicos sagrados que alguém, para ser liderança, deveria possuir esses princípios.

Quem conviveu com Chico, por mais que queira às vezes se desviar para outro caminho, só de lembrar daquela mensagem dele durante as assembleias do Sindicato – “a nossa vitória depende da nossa disciplina e da nossa organização” – não consegue perder o rumo.

Todos temos consciência de que uma grande liderança precisa ser disciplinada, ter responsabilidade, compromisso, respeito, união com o grupo e, também, tem que ler muito para passar as informações aos companheiros e companheiras.